Dor ao amamentar

Como pediatra, sempre aconselhei as mães a amamentarem, mas ao chegar a minha vez de finalmente experimentar a tão maravilhosa experiência do aleitamento, não pude desfrutar prazerosamente dessa minha importantíssima missão materna.

Ao contrário do que a teoria leciona, ao colocar em prática as técnicas de aleitamento que tanto dominava, percebi que amamentar seria muito mais difícil que poderia imaginar. Com minha filha, minha primeira experiência, não tive dificuldade quanto à pega. Acho que nem poderia, depois de tanto auxiliar a amamentação de meus pacientes com suas mães.

imageMas com meu filho, agora com dois meses, a amamentação foi se tornando muito dolorosa, a tal ponto que minha produção de leite a cada dia diminuía mais. Comecei a analisar meu caso – assim como de uma paciente, mãe, que chega ao meu consultório – percebi que não havia fissura, ou outra causa comum de tamanha dor, e a sensação de “agulhada” no mamilo já não estava presente apenas no momento da amamentação. Comecei a formular minhas hipóteses e, observando meu bebê, vi surgirem plaquinhas esbranquiçadas na sua boquinha: o famoso sapinho.

Pronto… eis que identifico uma provável causa de meu sofrimento: infecção fúngica de mamilo! Imediatamente comecei a busca por embasamento científico e relatos semelhantes na internet, e após larga pesquisa, meu diagnóstico enfim se confirmou. Percebo que tal infecção é muito mais comum que podemos imaginar, embora seja tão pouco debatida.

Trata-se de colonização pelo fungo Cândida Albicans da mucosa, adentrando pelo mamilo, por vezes acompanhada de fissuras e vermelhidão no local. A contaminação advém de vários fatores, desde alteração imunológica, desequilíbrio do ph e ambiente propício para o crescimento do fungo (como calor e umidade).

Infelizmente, não consigo mais amamentar meu filho. E como eu queria! Mas ainda tenho esperança e sei que é possível. Estou usando pomadas tópicas, além de antifúngico oral. Para o Rafa, tratei de ferver todos os bicos de mamadeira, pelo menos uma vez ao dia por 10 minutos na panelinha – impedindo a recontaminação através dos bicos – e após todas as mamada uso o esterilizador, além de aplicar loção antifúngica diretamente na boquinha várias vezes ao dia.

Assim vou aprendendo um pouco mais com minhas próprias experiências. Espero poder, com isso, ajudar mais mães e bebês na minha exaustiva insistência pela amamentação. Agora entendo que só quem passa pelo processo de amamentar compreende as dificuldades que muitas, como eu, vivenciam. Essa frustração é ainda maior devido o consenso de que amamentar é algo natural e prazeroso. Mas, infelizmente, essa regra pode ser rompida e não cabe a nós julgar ou questionar as impossibilidades e dificuldades que cada mãe enfrenta.

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